segunda-feira, 4 de abril de 2011

A vida verdadeira

Pois aqui está minha vida
Pronta para ser usada
Vida que não se guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço 
da vida
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor.
Ainda que o gesto me doa,
Não encolho a mão: avanço
Levanto um ramo de sol.
Mesmo enrolada em pó,
Dentro da noite mais fria,
A vida que vai comigo
é fogo: 
está sempre acesa
Vem da terra dos barrancos
O jeito doce e violento
Da minha vida: esse gosto
Da água negra transparente.
A vida vai no meu peito
mas é quem vai me levando: 
tição ardente velando, 
girassol na escuridão.
Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na garganta,
Cravando seu travo triste
Na verdade no meu canto.
Canto molhado e barrento
De menino do Amazonas
Que viu a vida crescer
Nos centros da terra firme.
Que sabe a vida da chuva
Pelo estremecer dos verdes
E sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.
Mas sabe também o tempo
Da febre e o gosto da fome.
Nas águas da minha infância
Perdi o medo entre os rebojos
Por isso avanço cantando.


Thiago de Mello.

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